D. António Barroso: Bispo do Porto e Venerável da Igreja Católica

No lar honrado de Remelhe cresceu um menino forte, de cabelos loiros, «estatura avantajada, olhos grandes e claros, brincalhão, com aspeto altivo mas bondoso e muito dado».[1] Na escola do amor ao trabalho e à virtude se formou um carácter robusto e leal. Observador atento dos trabalhos agrícolas, presenciou a rotina, o atraso dos métodos, afastou a indolência, desenvolveu a simplicidade do trato, robusteceu o físico.

A sua intervenção missionária[2] não terminou quando nomeado para o Porto. Ainda em 1916, tem opiniões fundamentais, que até hoje eram desconhecidas. A sua ligação à vida missionária, impressa na formação e gravada na experiência de António Barroso, não é posta de lado como bispo do Porto.

Preside a uma Comissão de reforma dos serviços missionários, que tem por secretário Dr. João Pinto dos Santos, do Ministério da Marinha. Redigiram umas bases, a que se refere em julho e agosto de 1900. Compromete-se a redigir um relatório em setembro[3]. Mais tarde informa o Núncio do novo desenvolvimento. A dispersão dos membros da Comissão, que precisa de reunir-se para aprovar o relatório e tirar dúvidas de alguns sobre as bases finalizadas, obriga a adiar para o fim do ano o encontro. Mas adverte com franqueza: se o Ministro tem pressa, que se sirva das Bases já entregues, dissolva a Comissão, pois particularmente continuaria disponível para, com responsabilidade particular, dar “quantos pareceres ele quiser”. Pergunta ao Núncio Aiuti se concorda com esta posição[4]. Este insistirá na brevidade e Barroso, impedido por visita pastoral ao norte, promete ir a Lisboa a partir de 15 de novembro e terminar o Relatório. Aceita a sugestão do “magnífico missionário” P. Antunes para trabalhar na Comissão, mas tal integração será oportuno apenas acontecer depois de uma reunião prévia do grupo[5].

Continua a dar parecer sobre questões missionárias, como sobre a administração eclesiástica em Angola e Congo, no início de 1916. Depois de considerações sobre as dificuldades e a evolução sofrida nos últimos tempos opina: “aquilo que mais convém ao interesse das almas e da civilização cristã é dividir a actual diocese em dois Vicariatos Apostólicos, um ao norte com sede na cidade de Luanda e outro ao sul com sede em Huila. Ficam assim reduzidas ao mínimo as despezas da administração. Como a única Congregação que ali tem interesses criados é a do Espírito Santo, a ela compete dar pessoas que devem ocupar esses lugares. Tem essa benemérita congregação ali missionários a quem não falta nem ilustração, nem zelo, nem experiência acrescida da vantagem de serem em grande parte portuguezes e do melhor quilate.

Se alguém quiser ver nesta maneira de encarar o assumpto menos amor ao meu paiz a esses responderei que acima dos interesses moraes ou materiais da minha pátria, coloco os espirituais da Igreja de quem sou filho e ministro, e estou convencido que é esta a solução que mais se coaduna com esses interesses.[6]

Esta clareza continua a faltar a muitos. Antes de serem portugueses, americanos ou italianos, africanos ou chineses são cristãos. O mais importante é a marca cristã, antes da nação.

Responde a Masella, a 4 de setembro de 1916, sobre a questão missionária e descreve com realismo a grave situação e vislumbra, com interpelante pessimismo: “em curto prazo não haverá nos nossos domínios de além-mar um só missionário português”. Considera este abandono “oficial e não do povo português”, mas a Santa Sé tem de tomar providências e a Propaganda Fide deve acudir, enviando diretamente os missionários que puder. Refere a hostilidade criada com as “irritantes questões da India” e a pouca simpatia por esta solução. Por isso confessa: ”me atrevo a propor” outra solução. Explica-a assim: “Como hoje em Portugal há Bispos que estiveram no Ultramar e lhe consagram especial afecto, estes com os das Colónias fariam uma Comissão para organizar um grande Seminário aqui ou na Espanha, se em Portugal continuar a negação da liberdade, para preparar missionários para a África portuguesa vazado nos mesmos moldes do das Missões Estrangeiras de Lião. Não obstante a penúria com que o país se debate, estou convencido que um apelo ao país firmado pelos Bispos portugueses daria resultado[7].

Vemos que até ao fim da vida tinha na mente a resolução de problemas missionários, com visão larga e lucidez impressionantes.

  1. O missionário António Barroso, bispo do Porto

A prolongada agonia do cardeal D. Américo Santos Silva, totalmente dependente de dois vigários gerais e do secretário, segundo nota o Núncio Andrea Aiuti (1849-1905) para o Vaticano, levanta a hipótese da nomeação de um coadjutor, mas sabe que o Bispo do Porto tem repugnância em aceitar tal solução e a Santa Sé não está disposta a fazer pressão, por ser “pessoa benemérita da Igreja e da pátria”. Dada a gravidade do seu estado, os médicos dão-lhe pouco tempo de vida. Por isso, o Núncio começa a preparar a sucessão e envia, já a 28 de novembro de 1898, uma lista confidencial de possíveis nomes: António Sebastião Valente, arcebispo de Goa; Manuel Agostinho Barreto, bispo do Funchal; Augusto Eduardo Nunes, arcebispo de Évora; e Manuel Batista da Cunha, arcebispo de Mitilene[8].

A morte do Cardeal Américo, ocorrida a 21 de janeiro de 1899, leva o Núncio, no próprio dia que comunica a morte de prelado “ilustre e benemérito”, mostrar ao Secretário de Estado do Vaticano o possível jogo de cadeiras. O Governo pensaria em propor para o Porto António Mendes Belo (1842-1929), arcebispo-Bispo de Faro (1894-1907)[9] e enviaria António Barroso para Faro. Outra corrente, a do Presidente do Conselho e Ministro da Justiça, proponha para a invicta o bispo de Coimbra Bastos Pina (-1913) ou o arcebispo de Mitilene, Manuel Batista da Cunha, já lançado para Braga e confirmado ainda em 1899. Se o de Coimbra fosse para o Porto, o Governo proporia provavelmente o arcebispo de Évora para Coimbra, o Bispo de Faro para Évora e Barroso sempre para Faro. Se for o Arcebispo de Mitilene para o Porto, então a proposta seria o arcebispo de Évora para Coimbra ou Braga[10]. O Núncio considerava que o Porto precisava de um bispo mais jovem que o de Coimbra, então com 69 anos. De facto, a 27 de janeiro o governo apresentava Barroso, nomeado a 21 de fevereiro e confirmado em consistório de 20 de maio. Já a 7 de março António Barroso assina, em Meliapor, diante de Joseph Colgan, arcebispo de Madrasta, o juramento de fidelidade, recebido na véspera, destinado ao processo[11]. O missionário agradece a intervenção do Núncio na sua promoção reconhecendo: “como méritos tenho apenas a boa vontade de ser útil à religião e é nisso que consiste a minha ambição; aqui ou ai estarei bem, se puder promover o seu aumento”[12].

Tomou posse a 24 de Junho e com entusiasmo nunca visto, entrou na cidade do Porto a 2 de Agosto, envolvido por calorosíssimo acolhimento, adequado a quem já carregava vinte anos de extraordinária dedicação. Criou uma empatia com a cidade que o amou como raramente ocorre. A brilhante recepção demonstra o conhecimento de vinte anos de evidente dedicação e capacidade para grandes empresas. 

Também a Câmara de Barcelos organiza uma homenagem. Deixemo-nos guiar pela pena saborosa de outro Servo de Deus, o P. Américo Monteiro de Aguiar: «O Senhor D. António, Missionário da África, foi o homem do seu tempo. Encheu a História. Coisas pequenas tornaram-no um gigante. De uma vez, também em Barcelos, a Câmara de então quis prestar-lhe as honras de haver sido transferido do Ultramar e feito Bispo do Porto, tendo-o detido numa sessão magna, antes de ir a Remelhe ver a Mãe. Começam os oradores. Nisto, o festejado olha. Pareceu-lhe ver ao fundo alguém conhecido… Tornou a olhar. Não há dúvida. Era ela. Levanta-se. Abre caminho. Há o encontro. Toma-a consigo. Regressa ao estrado. Fá-la sentar na sua própria cadeira. Acabou a sessão. Estava tudo dito.»[13]

Após uns dias de repouso merecido no Gerês, na segunda metade de Agosto, repensa o seu projeto diocesano, traçado já na carta pastoral de saudação, enviada de Lisboa, a 27 de Julho de 1899. Seria uma das 28 do seu fecundo magistério. Apresenta-se como “Pai espiritual”, mostra consciência do grande número de instituições dispostas a socorrer os pobres e aliviar a miséria e elogia a cidade que como nenhuma outra no reino possui tantas associações de diverso timbre, unidas no fazer o bem.[14]

Na obra Réu da República já desenvolvi dimensões que não vou aqui repetir, mas ater-me a informações obtidas na documentação da Nunciatura, em boa parte inédita. 

Não dedico atenção seja à fecunda doutrinação, seja às medidas concretas no campo da “instrução religiosa e da pregação, prioridade pastoral de um orador exemplar”[15]; não me detenho no cuidador das questões reais com “sensibilidade aos problemas sociais e amor à pátria”[16]; não desenvolvo o génio de bondade atraente do pastor arrebatador de pessoas e promotor de associações; não explano sobre a sólida fé marcada por um profundo sentido de Igreja, um entranhado amor e devoção ao papa, seja ele Leão XIII, Pio X ou Bento XV, com a permanente doutrinação e apelo a contribuir, através de 12 cartas pastorais, para o Dinheiro de São Pedro[17]. A primeira vez que não pode presidir, na catedral, ao Te Deum pela eleição do Papa, Barroso afirma: “mas celebrei com a mesma fé e devoção na minha capela… decerto que no Porto foi celebrado com mais solenidade, mas não com mais fé”[18]. São belas as palavras simples de um coração eclesial: “Sou feliz quando sei que o Santo Padre é contente”[19]. Expressão do cuidado pastoral de António Barroso foi o clero, o seminário, a imprensa católica, a vida espiritual[20]. No tempo do exílio, vai três anos seguidos a Lourdes em agosto. A 27 de agosto de 1911 regressa de uma breve peregrinação a Lourdes, onde rezou “pela Igreja, pelo Papa, por este país”[21]. De novo vai a Lourdes uma semana, em agosto de 1912, para pedir pela pátria[22]. De novo, em 1913, parte em 18 de agosto e tem pena de não poder ir a Roma[23]

Não dedicarei aqui espaço ao profeta corajoso, que paga nos passos dos exílios: o primeiro longo: de 7 de março de 1911 a 3 de abril de 1914[24]. O segundo exilio: o caso de Vila Boa de Quires leva o bispo a ser expulso da Diocese e a residir em Coimbra, de 7 de agosto a 20 de dezembro de 1917.

Feito o acolhimento festivo, o Bispo não tarda em agir como pastor zeloso. As provisões e as vinte e oito cartas pastorais são recheadas de doutrina, alimentam o dinamismo das instituições diocesanas e despertam a fé ou impelem a uma caridade mais evangélica. É um pastor vigilante e bondoso, que não arrasta problemas, antes os enfrenta, não exige o impossível, mas desafia a uma renovação permanente.

A atenção permanente à realidade concreta é uma dimensão surpreendentemente eficaz neste homem de Deus. Herdou da sua origem rural uma capacidade para atender à vida e recebeu nos estudos o discernimento das estruturas. Tinha sido assim nas missões, como ficou patente nos seus preciosos relatórios, e será agora na nova tarefa. Antes de mais, preocupa-o o conhecimento da diocese. Ao conhecê-la vai atacar alguns problemas, tais como a instrução religiosa, vai intervir nas questões sociais, demonstrar sensibilidade ao dinamismo eclesial, e dar a lição corajosa da vida.

À medida que toma conhecimento da realidade desventra as raízes do mal e aponta remédio urgente. O missionário habituou-se à descrição da situação, nua de adereços. Assim acontece na Pastoral de 1906: «Uma vasta e universal conspiração se tem formado contra Deus e contra a sua Igreja; todos os dias observamos com dor o avolumar dos que no livro, no jornal, na conferência, por palavras e por acções, combatem com fúria indómita tudo o que Deus ao homem se dignou revelar e à sua Igreja confiou …».[25]

E para que os leitores não pensassem que a falta de instrução era «imaginária e fantástica» quando referida a este canto do mundo, declara com frontalidade e clareza: «nesta terra portuguesa medra e faz estragos um encarniçado inimigo da Igreja de Deus, inimigo que é preciso vencer e aniquilar. É a ignorância religiosa».[26] Desta realidade não lhe interessam tanto as causas, mas sobretudo o antídoto imediato. E logo traça a ordem e prescreve o remédio para o inimigo: «é indispensável, pois, à custa de todos os sacrifícios adelgaçar trevas, derruir preconceitos, dissipar suspeitas e sobretudo exemplificar pela prática das virtudes, pelo exercício da caridade e pela manifestação […] do espírito cristão que é generoso, sofredor humilde e compassivo».[27] Dirige-se aos pais de família para que sejam corresponsáveis na educação cristã dos seus filhos, desde a mais tenra idade. 

Em três situações (pensionistas, cultuais e Bula da Cruzada), criadas pelo novo enquadramento republicano, Dom António Barroso mostra o seu discernimento pastoral, mesmo em discordância com a visão romana, e alegra-se pelo modo como a diocese do Porto resistiu à mudança de situação económica.

A Lei da separação, ao expropriar os passais e ao abolir as côngruas, alterava profundamente a situação económica do clero paroquial. Desejava o novo regime funcionalizar o serviço eclesiástico. A esmagadora maioria do clero, sobretudo no Norte, não aceitou a proposta das pensões do Estado[28]. Em todo o país pensa que os pensionistas serão uns 400[29]. Apesar da dificuldade para saber quais os párocos da diocese do Porto que aceitaram a pensão do Estado, chamados pensionistas, António Barroso julga que a notícia de O Grito do povo não anda longe, ao referir 16 entre os párocos colados, pois estes deviam recusar em requerimento. Quanto aos encomendados só consta que três a requeressem.[30] Dos 13 que aceitam a pensão “dois estão há muito suspensos e um é quase irresponsável”. E o bispo conclui: “na minha humildade, louvo e bendigo Nosso Senhor que permite que a diocese do Porto tenha poucos apóstatas”[31]. Em setembro envia a lista dos padres pensionistas.

As associações cultuais constituíam a tentativa republicana para retirar a gestão do culto à Igreja e atribuí-la a leigos, muitas vezes ateus. O Governo pressionava a população para formar estas corporações e os bispos resistiam. Num país com 3921 paróquias foram criadas, entre 1911 e 1918, 255 corporações.[32]

Uma vez que o Governo não vai desistir do “manifestado propósito de intervir abusivamente na aplicação e finalização das esmolas dadas pelos fiéis”, para grande mal propõe grande remédio: a extinção da Bula. Faz o elogio do defunto, com todas as honras: “elemento do mais alto valor no arquivo rico do nosso património moral”, “documento vetusto e autêntico da sua fidelíssima e firme adesão à Cadeira de Pedro”. Sugere a solução: “O Santo Padre na sua paternal bondade pode conceder a cada um dos Prelados de Portugal as graças atuais e privilégios da Bula, ou ainda os aumentaria com a faculdade de que estes as distribuíssem aos seus respetivos fiéis com as condições que em sua consciência entendessem e mediante esmola destinada à formação e sustentação do clero e do culto. “O povo que é indubitavelmente cristão e generoso está alheado dos processos modernos de obter dinheiro para as despesas do seu culto”. Põe o dedo na ferida: “a última razão disto é a falta de hábito e de organização”. E em dia inspirado, continua a longa missiva manifestando que “nunca foi tão urgente o ter Seminário com recursos suficientes para a requisição de largos estudos em harmonia com as crescentes necessidades, impostas pela época presente”. Porém, mais longe vai o Prelado barcelense: “reputo de urgente necessidade pensar a sério na criação de um Instituto de altos estudos teológicos e filosóficos[33] que seria a escola normal donde sairiam os professores dos Seminários. Sem esta instituição que mantenha alto o nível científico, não só não progrediremos, mas será certo o retrocesso”. Recorda que o Colégio Português[34], que ajudou a surgir, pode desempenhar esta função, mas precisa que os fiéis pela Bula ou outros meios habilitem os Prelados a sustentar nele a elite dos seus seminaristas”.

A objetividade das informações de Dom António Barroso dadas à Nunciatura sobre candidatos ao episcopado é por si só um capítulo. Trata-se do seu contributo pessoal para o bem comum da igreja em Portugal. Estamos diante de um conselheiro da Santa Sé, serviço no qual dá provas de um discernimento profundamente pastoral, de uma autenticidade de parecer, destituído de qualquer jogo de poder e despido de favorecimento ou desvantagem por relações de amizade ou antipatia.

Não foi só no auge republicano de 1910 que teve início a luta do António Barroso a favor da liberdade religiosa e que começou a sua firmeza corajosa. Chegaria, contudo, a ocasião para revelar o carácter destemido da sua fé e amor à liberdade da Igreja. O Governo apressou-se a lançar legislação abundante, destinada a erradicar o catolicismo em Portugal. As medidas legais contra a Igreja Católica multiplicam-se na incipiente República. O Bispo escreve, em 12 de Outubro, a Afonso Costa apelando para o fim da legislação contra a Igreja, uma vez que não está a ser submetida à aprovação da Assembleia Constituinte.[35] Os termos são hábeis e medidos. De facto, o Ministro não atende à carta e as medidas sucedem-se.

Este furor legislativo não podia deixar os bispos insensíveis. A provação era amarga e exigia-se uma tomada de posição. Neste contexto surge a Carta Pastoral Colectiva. É assinada por todos os bispos em 24 de dezembro. Destina-se a ser lida e explicada aos fiéis católicos, no dia 26 de fevereiro de 1911. Expunha serenamente a doutrina sobre o problema religioso em Portugal. O Governo, apenas teve notícia do documento, proibiu a sua leitura. No dia três de março, Afonso Costa envia telegramas a todos os bispos signatários negando beneplácito em atitude de despotismo, aqui mal-esclarecido, porque não se aplicava às pastorais dos bispos, mas aos documentos da Santa Sé.

A coragem tranquila do bispo do Porto põe Afonso Costa furioso. É às cinco da manhã do dia 5 que D. António Barroso responde ao ministro: «Como disse em telegrama de hontem mandei suspender leitura da Pastoral parochos da Cidade. Não podia fazer prevenções aos restantes. Darei essa ordem aos que puder.»[36] Esta forma serena e realista indignou o ministro. 

Afonso Costa envia ordem ao Bispo para que se apresente em Lisboa. Estava-se na terça-feira, dia 7 de Março de 1911. Um decreto determina a destituição de D. António Barroso das suas funções episcopais e de governador da diocese do Porto, a declaração de vacância da diocese, a proibição de o prelado voltar a qualquer parte do território da diocese.

Depois de alguns meses em Cernache, vai para a terra natal de Remelhe, onde chega a 10 de Junho.[37]  Deslocado, condenado a um desterro sem limite de tempo, o Bispo do Porto viveu em Remelhe, na simplicidade como anacoreta, aproveitando o tempo, orientando a diocese à distância e recebendo muitas visitas que admiravam as suas virtudes. Das ordenações na catedral do exílio resultaram os seguintes presbíteros: 23 (1911), 20 (1912), 20 (1913).[38] O prestígio da figura não tinha sido abalado e os jacobinos extremistas desejavam humilhá-lo.

Um pequeno pretexto bastou para nova diatribe. Recebe na sua quietude de Barcelos, com surpresa, a intimação de um meirinho para comparecer no Tribunal de S. João Novo, no dia 12 de Junho de 1913.[39] Qual era a acusação? Ter-se deslocado a Custóias, para ser padrinho de baptismo, em representação do papa Pio X.[40] Costuma ser citada a atitude do Bispo do Porto ao enfrentar a barra do tribunal, em junho de 1913. Escreve sereno a Aloisi Masella: “Amanhã serei julgado. O caso não me dá cuidado. Absolvido ou condenado ficará sempre o exemplo de que não deve haver medo dos tribunais quando se defende uma causa justa. Aceito reconhecido os parabéns porque o caso é para isso”[41]. Após a empolgante defesa, em breves minutos, a sentença é lida e declara o Bispo absolvido pelo tribunal.[42] Quando chegou aos claustros a multidão irrompeu em aplausos vibrantes. 

Decorridos três anos de exílio, surgiu no Parlamento a proposta de levantar a proibição de D. António Barroso viver na sua diocese. Pode voltar ao Porto, ao cair da tarde do dia 3 de Abril de 1914. 

Além da coragem destemida do Bispo em 1910, quero recolher afirmações posteriores que provam a sua liberdade essencial. Em 1915 confessa a Masella: “talvez o meu amigo da Justiça já se tenha arrependido do mal que me quis fazer; seja como for não tenho um vão desejo de que a lição do passado o torne mais justo para com a Igreja; por mim nenhum medo lhe tenho”[43].

Barroso observa as manobras políticas e, com clareza, afirma em 1915: “assim vimos sempre contemporizando com monárquicos e com republicanos; uns dizem que estamos enfeudados aos primeiros e os outros que tememos os segundos. Isto é talvez cómodo, mas não é digno e quem perde é a Igreja e também a Pátria”[44].

A 5 de março de 1916 responde à interpelação de Masella sobre posição do Governo e declara: “sou de opinião que se deve protestar com energia contra as violentas intromissões dum governo que não tendo religião alguma, se arroga o direito de se intrometer nos domínios espirituais da Igreja Católica, para a oprimir. […] [45]

Em 1917, os bispos escrevem uma carta pastoral coletiva e em resposta a recomendações de Masella, referentes à imprensa católica, Barroso escreve: “Sempre me tenho esforçado por manter a necessária distinção e todos os dias verifico que é um erro muito grave imputar à monarquia ou à república, o que por sua natureza deve estar sempre acima do que pertence às disputas e paixões dos homens.[46].

Sob pretexto de que o Bispo do Porto tinha concedido a três mulheres piedosas a autorização de viverem em comum, em Vila Boa de Quires (Marco de Canaveses), o Ministro da Justiça, alega atentado contra a dissolução das ordens religiosas e aponta-lhe o caminho do exílio (7 de agosto de 1917). Manifesta o seu sentir a Masella: “É certo que tenho saudades dos meus diocesanos e me aflijo por me roubarem o direito de viver no meio deles, além das dificuldades, que me traz um considerável aumento de despesa, o que mais tem de custar aos meus diocesanos; porém tudo isto tem pouca importância e eu continuo a estar contente e pronto para o mais que vier com a graça de Deus”. [47] Só a chegada de Sidónio Pais ao poder, a 5 de dezembro de 1917, vai anular o decreto opressivo. Por isso, a 20 de dezembro do mesmo ano, o bispo regressa à sua diocese.[48]

Todos estes abalos debilitaram o porte atlético e minaram a resistência física de D. António Barroso. Daí que, passados poucos meses, atacado pela doença, ainda que benigna, estava demasiado enfraquecido por tantos vexames e humilhações, acolhidos com serenidade, mas violentando a sua energia. 

Como missionário e missiólogo António Barroso situa-se entre os mais notáveis da história portuguesa, seja nas primeiras e determinantes aventuras do Congo (1880), seja como incansável Prelado de Moçambique, seja como resistente construtor da comunhão em Meliapor (Índia). Com toda esta experiência evangelizadora de autêntico herói da Pátria, que muito amava, é escolhido para Bispo do Porto (1899). A bondade fraternal e a firmeza militante da sua condução pastoral conquistaram os portuenses. 

Raras figuras da nossa história religiosa catalisam, como D. António Barroso, a densidade das características do seu tempo, permitindo no percurso da sua vida (1854-1918) reunir os grandes debates de um arco de tempo significativo. Situamo-nos, realmente, na emergência da ação missionária nos territórios coloniais portugueses, na mudança de regime de Monarquia para a República e na intensificação da vida pastoral das dioceses, prosseguindo caminho aberto desde os anos 70 do século XIX.

A 19 de Fevereiro de 1917, António Barroso redige o seu testamento. Aí testemunha com evidência a sua pobreza evangélica: «nasci pobre, rico não vivi e pobre quero morrer, em obediência e acatamento às sábias leis da Santa Igreja católica. Por isso, e salva a liturgia, quero que o meu funeral seja o mais pobre possível.»[49]

Assim testemunha o seu sucessor: «envelhecido antes do tempo, de cabelos brancos e andar vagaroso, passava pelo meio do povo e todos se descobriam respeitosos, lhe pediam a bênção e diziam: `é um santo’..».[50]

E esta dimensão de santidade que agora vou desenvolver brevemente.

2. Venerável António Barroso

Encerrado o processo de beatificação em 1994, no Porto, e enviado para Roma já mereceu a aprovação das virtudes heroicas e aguarda um milagre para ser declarado beato.

Entre estas virtudes sobressaem a abnegação e bondade. Viveu pobre e morreu pobre com desinteresse económico e fez sua a causa dos pobres e de todos os necessitados. Não se cansa de atender os desprotegidos e ser para eles amparo e com afabilidade acolher suas amarguras e lamentos. Não admira que Correia Pinto o apelidasse já em 1916, no jubileu da sua ordenação episcopal “O Bispo dos pobres”. Descreve “a alma do Prelado amorável e carinhosa, que passa pelas ruas da cidade a facilitar o caminho dos seus filhos mais desgraçados”[51].

O Dr. Nunes da Ponte, Presidente da Camara do Porto considera-o uma personificação da bondade a um ano da sua morte. Recebia a todos com simplicidade. A palavra oportuna, a partilha dos bens com verdade não manifestava mera naturalidade das suas raízes, nem vincada obrigação da experiência africana, mas assumia contornos de virtude, cultivada com a companhia permanente de uma consciência evangélica do essencial testemunho da caridade.

Atraia pela doçura do ser olhar meigo, manifestava uma encantadora e singela vulnerabilidade, passava por todo o seu ser uma seiva de despretensiosa bondade, reconhecida e apreciada unanimemente pelos seus contemporâneos[52]

A intensidade da sua abnegação é claramente notada no Comércio do Porto ao noticiar a sua morte: “Ministro de uma religião toda de amor, ele foi o mais amoroso dos prelados, cidadão de uma pátria de heróis, ele foi um verdadeiro herói no civismo e na abnegação com que a serviu. A bondade era o fundo estrutural daquela individualidade, que só no bem-fazer se comprazia”.

Mas deixo falar o orador Cónego Correia Pinto em 1927: “Bondade enternecida, profunda, enorme, irreprimível, desbordante; bondade que dilatas o coração e transfiguras a vida, bondade que te acrisolas, exaltas e divinizas na brandura, na paciência e na caridade de Cristo; èes para todos indulgencia, perdão, solicitude, bondade! Como tu embalas o povo, como tu edificas os bons, como tu vences os maus, como tu confundes os impios, como tu fazes apologética cristã, a mais oportuna, a mais acessível, a mais persuasiva e a mais comovedora[53].

Bom no governo do bispado, bom no trato social, bom na intimidade afectuosa, bom na exortação, na advertência, no conselho, bom até para aqueles que algum dia foram injustos e rudes para com ele… Bom para todos mas sobretudo para os pobres”. Abria a bolsa prontamente, com bondade extrema.

Outra virtude essencial é a fé intrépida e a coragem intemerata do pastor. A coragem destemida do missionário, que nas viagens continuas não se guiava pela aventura, mas pela ansia de ir ao encontro das pessoas que urgia conhecer para evangelizar. Os riscos não contavam, o desgaste não amedrontava, ia até aos limites das forças porque o alimentava uma fé inquebrantável. É o próprio D. António a unir a fé com a coragem na sua carta pastoral programática, com que iniciou o ministério no Porto, como que a adivinhar o vigor dos espinhos que o atingiram tao descaradamente. Considerou o bispo: a “firmeza e constância na fé é tanto mais necessária quanto é certo que hoje mais que nunca, são violentos os ataques, levantando-se a guerra como cruzada de ciência”. E logo acrescenta: “mas não basta a fé, é necessário ter a coragem de a confessar sempre e em toda a parte, sem tergiversações, e muito menos sem desalento[54]. E exemplo da sua vida daria corpo real a estas palavras. Muitos testemunham a sua coragem de mártir.

O seu sucessor no Porto, António Barbosa Leão, escreve: “quem examinar a obra de D. António Barroso nos Seminários diocesanos, na vida religiosa das paróquias da sua diocese, nas instituições de caridade e beneficência, quem atender à corrente de simpatia que por toda a parte desperta e sua passagem; quem a estudar sobretudo nas horas de luta e de perseguição, não pode deixar de curvar-se respeitoso diante deste homem de Deus que, intemerato, soube sempre cumprir o seu dever[55]

Outro bispo do Porto, António Castro Meireles, que também viria a ser mártir, na homenagem de 1931, mostra sua capacidade oratória ao afirmar: “Ainda mesmo quando estava em jogo um grave interesse da Igreja, eram marcados por uma serenidade imperturbável os seus actos de maior nobreza moral e da mais desassombrada energia. aprumava-o apenas um pouco mais a mística do seu apostolado, arqueva-se-lhe um pouco mais o peito, à maneira dos grandes heróis doutro tempos e tínhamos em frente o mártir afoito para as maiores provas[56]

Na sua prosa única, o Servo de Deus P. Américo admirador da frontalidade e coragem missionária de D. António Barroso, assinala em 1954: “Não sei que algum bispo da historia de Moçambique tenha ido ao Zumbo antes dele. Era uma jornada de quinze dias, por carreiros de pretos. Ele foi. […]  Fumava charuto. Uma vez que vim a Portugal, fui a Remelhe levar ao desterrado a prenda amiga de um missionário: um cachimbo queimado. Fumava. Parecia do mundo e não, era um Homem de Deus! Só ele mereceu ocupar e preocupar os homens do Terreiro do Paço, naquele tempo. Duro, Tenaz. Rebelde. Uma só cara. Não torceu nem quebrou. Só ele!” (O Gaiato. 11, n. 280 (20-11-1954).

A resistência simples às ameaças dos poderosos, a sua cabeça erguida e seu olhar observador, sem medo, mas com ousadia de antever o futuro em momento conturbado de transição cultural, permanece como exemplo. A ele continuem a recorrer nas aflições como santo próximo de Deus, vivendo o amor que plasmou todos os seus passos.

E termino, com duas referências: a de um bispo seu sucessor, D. Armindo Lopes Coelho, ditas em 1999, e de uma simples mulher sua vizinha. A do Bispo afirma: “o santo bispo missionário…viveu num tempo de forte agitação politica, de crise aguda e de transformação social. Bispo da Igreja, andou embarcado nas tempestades da época. Confiante imperturbável. Com a serenidade dos fortes, foi atirado para o coração da borrasca. Mas o seu coração estava temperado na experiência de climas adversos e de tarefas difíceis levadas a cabo. Devia ser um coração frio de paz, mas inflamado de zelo apostólico. A sua inteligência era lúcida, o discernimento fácil, a decisão óbvia, a coragem muita. Não precisava de palavras para se animar ou para convencer”.

Uma senhora vizinha e praticamente da mesma idade do venerável António Barroso, Ana Joaquina Senra, numa entrevista em 1951, falava assim: “D António era uma figura muito querida, Falava com toda a gente e falava como nós. Não tinha vaidade nem vergonha de estar com os pobres. Comia caldo por tigela de barro como nós. Comia um jantarzinho de maças assadas, se não houvesse mais nada. Era assim um santo, sabe?” (Diário do Norte, 23-07-1951).

A esta sua pergunta, todos aqui respondemos: Sim, sabemos.


[1]  Cf. GOMES, J. Ferreira – Súmula biográfica de D. António Barroso. Cucujães: Ed. do Autor, 2002, p. 30.

[2] Ver ARAÚJO, Amadeu Gomes de – D. António Barroso (1854-1918): missionário reformador. Lusitania Sacra. 19-20 (2007-2008) 217-259.

[3] Archivio Apostolico Vaticano (AAV), Archivio Nunziatura Lisbona (ANL) 344, fasc. 2, f. 379 (03-09-1900).

[4] ANL 344, fasc. 2, ff. 375-378 (28-09-1900)

[5] ANL 344, fasc. 2, ff. 362-363 (23-10-1900). Partirá no dia seguinte para Amarante.

[6] ANL 403, fasc. 1, ff. 319-320 (04-01-1916).

[7] ANL 403, fasc. 1, ff. 342-343v (04-09-1916).

[8] ANL 344, fasc. 3, ff. 111-112v.

[9] Também a Rainha, por sugestão de Bastos Pina, tinha feito tudo para recomendar Mendes Belo (Cf. ARAÚJO, Amadeu Gomes de; AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Réu da República: o missionário António Barroso Bispo do Porto. Lisboa: Aletheia, 2009, p. 225).

[10] ANL 344, fasc. 2, ff. 122-123.

[11] ANL 344, fasc. 2, ff. 200v.201v.

[12] ANL, 350, fasc. 2, f.152 (carta de Madras, 07-03-1899).

[13]  AGUIAR, Américo Monteiro de – O Gaiato. 11: 280 (20-11-1954).

[14] Queria ir a Roma em maio de 1900, mas confessa ao Núncio (09-03-1900) que precisa de ajuda “porque as minhas condições financeiras são más” (ASV, ANL 347, fasc. 2, ff. 221-221v). Acaba por ir, mas dia 8 de junho já estava de regresso, ainda que fatigado.

[15] ARAUJO; AZEVEDO – Réu da República, p. 232-239.

[16] Ibidem, pp. 246-251.

[17] Réu da República, p. 239. O dinheiro de S. Pedro, em 1904, rendeu 1651$825 (ANL 358 fasc.3, ff. 376 (31-08-1904) – Carta de Barroso ao Núncio). Em 1905, rendeu 1503$560 (ANL 358 fasc. 3, f. 400 (11-09-1905 – Carta de Barroso ao Núncio).

[18] ANL 411, fasc. 2, ff. 24-25 (09-08-1911).

[19] ANL 399, fasc. 2, ff. 345-345v (26-05-1912). 

[20] Em setembro de 1900 organiza um retiro para o clero, orientado por jesuítas, e pede licença para os confessores absolverem de todos os pecados (ASV, ANL 344, fasc. 2, 230-231 (Carta de 03-07-1900). Pede aprovação para o costume introduzido há vários anos, do mês de Maria rezando o terço diante do Santíssimo Sacramento exposto à porta do sacrário, dando a bênção no fim e rezando a missa antes ou depois. E o bispo esclarece Masella: “não está nos nossos hábitos rezar-se o terço durante a missa”. A exposição e bênção atraia maior número de fiéis (ANL 396, fasc. 2, f. 177  -02-10-1914). 

[21] ANL, 396, fasc. 2, ff. 23-24 (28-08-1911).

[22] ANL 398, fasc. 3, ff. 227-228 (15-08-1912).

[23] ANL 396, fasc. 2, ff. 118-119 (17-08-1913).

[24] Quando se aproxima o regresso à diocese em 1914, Barroso tem notícias de Masella. Comenta-as assim: “Devo dizer a V. E. que muito estimo o voto do poder legislativo, mas quero e não solicitei nem direta nem indiretamente. Julgar-me-ia desonrado se pedisse benevolência aos perseguidores da Igreja para mim” (ANL 396, fasc. 2, ff. 150-151). Começa a preparar o regresso e já conseguiu encontrar casa apropriada para as repartições e para ele. Manifesta que está ansioso (ANL 396, fasc. 2, ff. 155-156).

[25] BARROSO, António – Dinheiro de S. Pedro (Septima Pastoral) e Congregação da Doutrina Christã [20-1-1906 e 30-11-1906]. Porto: Typ. Real Officina de S. José, 1906, p. 5.

[26] Ibid., p. 6-7.

[27] Ibid., p. 8. Um ponto doutrinal a privilegiar na formação: a constituição da Igreja de Jesus Cristo e o primado de Pedro.

[28] Sobre o tema ver NETO, Vítor – Padres pensionistas. In DICIONÁRIO de história da I Republica e do republicanismo. Vol. 3, Lisboa: Assembleia da República, 2014, pp. 135-139. No AAV conserva-se o folheto: Ao Paiz: os padres pensionistas definem a sua atitude perante os bispos e a Santa Sé. Lisboa, 31.08-1912 (ANL 398, fasc. 3, ff. 295-296v).

[29] ANL 398, fasc. 3, ff. 316-317 (08-09-1912). Repete o pedido em 3 de novembro: ANL 402, fasc.1, ff. 123.

[30] MOURA, Maria Lúcia de Brito Moura – A “guerra religiosa” na I República. 2 edição, revista e aumentada. Lisboa: CEHR, 2010, pp. 186-187, dá lista das paróquias e nomes, a 30 de agosto de 1911. Os encomendados são António Joaquim Farinhota (Cepelos. Amarante), Manuel Pereira Cardoso (Gondar – Amarante) e João Tavares Correia (Tabuado- Marco de Canaveses).

[31] ANL 398, fasc.3. f. 29 (12-07-1911).

[32] Ver MOURA – A “guerra religiosa” na I República,  pp. 215-254. Lisboa -71; Porto – 25, Aveiro – 23; Coimbra – 22; Beja – 19; Leiria – 18.

[33] Já em 1900, na abertura das aulas do Seminário, a intervenção da oração de sapiência, António Barroso dedica-a a “Necessidade e importância dos estudos teológicos”.

[34] Ver CARDOSO, A. Pinto – A fundação do Colégio Português em Roma na formação do clero em Portugal no final do século XIX. Lusitania sacra. 3 (1991) pp. 291-347.

[35]  Cf. GOMES – Súmula, p. 23. Texto da carta em Boletim D. António Barroso. 108 (2002) 2.

[36] Cf. MACEDO, José Adílio de – D. António Barroso, Afonso Costa e a Pastoral Colectiva. Lusitania Sacra. 6 (1994) p. 340.

[37] Há uma carta para o Núncio datada de 18 de Junho, escrita em Remelhe. Ver Ibid.

[38] PINTO, António Ferreira, cón. – D. António Barroso: Um Herói da Epopeia Portuguesa no Ultramar. Porto: Tip. Porto Médico, 1931, p. 98. Durante todo o episcopado de D. António, à frente da Diocese do Porto, foram ordenados 415 presbíteros.

[39]  Na véspera de ir a tribunal escreve ao Núncio (11-6-1913) mostrando a razão da sua atitude. Pretendia com a sua ida, sem recorrer do despacho de pronúncia, mostrar aos padres que não se deve temer a justiça quando se procede de recta consciência. É mais um exemplo de civismo e abnegação (Cf. GOMES – Súmula, p. 55).

[40]  A criança era por isso neta do Eng. José Joaquim Guimarães Pestana Silva, chefe dos legitimistas no Norte. Foi ele que pediu a D. Sebastião Leite de Vasconcelos, perseguido bispo de Beja, refugiado em Roma, para ser o padrinho. Este tomou a iniciativa de pedir ao Papa, que delegou a sua representação em D. António Barroso.

[41] ANL 402, fasc. 2, ff. 513-514 (11-06-1913. Sabe que Masella esteve pelo norte e comenta “o meu ardente desejo é que V. E. leve boa impressão do Porto, que reputo a cidade mais cristã do país e Deus me perdoe se nisto há vaidade. Que pena não estar lá!” (ANL 396, fasc. 2, ff. 105-106 (23-07-1913).

[42] O Governo criticou publicamente o representante do Ministério Público, Dr. António Maria Pinheiro Torres (Despacho de 27-6-1913) (cf. GOMES – Súmula, p. 24).

[43] ANL 396, fasc. 2, ff. 208-209 (21-05-1915).

[44] ANL 396, fasc.2, ff. 210-211v (06-06-1915).

[45] ANL 407, fasc. 1, ff. 383-383v. 

[46] ANL 393, fasc. 2, f. 72 (10-03-1917).

[47]ANL 396, fasc. 2, ff. 520-521 – 17-09-1917.

[48] O Decreto revogatório n. 3.687 tem a data de 22 de dezembro. António Barroso teve por isso conhecimento prévio do seu teor. Aliás nos dias do golpe de estado de Sidónio o Bispo ausentou-se de Coimbra e hospedou-se num Hotel da Avenida da Liberdade em Lisboa (cf. Boletim de D. António Barroso.106 (2002) 2. Desconhecem-se os meios de informação que conseguiu.

[49]  Cf. Arquivo Distrital do Porto, Administração do Bairro Oriental do Porto, Livro 163, do Registo de Testamentos, fl. 24 v. e ss. Transcrito em Boletim de D. António Barroso. 31 (1995) 2.

[50]  Carta-prefácio. In BRAZ, Sebastião d’Oliveira – D. António José de Sousa Barroso: Esboço da sua Biografia. Porto: Livr. Portuguesa Ed., 1921, p. 12.

[51] BRAZ – D. António, p. 119.

[52] Réu da República, p. 287-294.

[53] PINTO – D. António, 182-183.

[54] BARROSO, A. – Carta pastoral saudando e exhortando os seus diocesanos [27-07-1899]. Porto: Typ Catholica, 1899.

[55] Réu da República , p. 297.

[56] Réu da República,  p. 297.